terça-feira, 13 de janeiro de 2015

Para quem gosta de ler: Crônica, Martha Medeiros.

Ooi gente! Nessa última semana estive buscando inspirações para escrever (tenho um caderno com alguns textos de minha autoria, mas isso conto em uma outra postagem) e me lembrei de um livro muito especial de uma escritora da qual sou fã, a Martha Medeiros. Ela é jornalista, aforista, poetisa brasileira e escritora. E que escritora! 
Martha publicou muitos livros ao longo de sua carreira, de crônicas e poesias. Mas um, em especial, muito me marcou. Ele se chama ''Feliz por nada.'' Ao todo são 85 crônicas distribuídas em 211 páginas que abordam todo o tipo de assunto, de relacionamentos à lições de vida, com muitas metáforas e bom humor.


Uma crônica em especial me chamou a atenção... Me fez refletir. Sempre observei nas pessoas uma necessidade muito grande em de achar que tem certeza que sabem. Aliás, eu mesma gosto de ter certeza que sei. Nós gostamos. Tenho certeza. Você não tem? Haha.

Achar que, só por observarmos de fora, sabemos o que se passa na vida de uma pessoa, quando na verdade não fazemos ideia do que a levou a tomar certa atitude. Achar até mesmo que temos certeza do sentimento do nosso parceiro, por conta de palavras carinhosas e gentilezas intermináveis, quando na verdade às vezes nem ele tem certeza - e não por dissimulação de sentimentos, mas sim pelo grau de complexidade que é feito um ser humano. O desejo da maioria das pessoas é se sentir preparada e segura, para qualquer eventualidade.

''Achamos que sabemos''

''Outro dia assisti a um filme no DVD do qual nunca tinha ouvido falar - talvez porque nem chegou a passar nos cinemas. Chama-se Vida de casado, um drama enxuto, com apenas no¬venta minutos de duração e jeito de clássico. Gostei bastante. Um homem casado há muitos anos se apaixona por uma bela garota e com ela quer viver, mas não sabe como terminar seu casamento sem que isso humilhe a venerável esposa, então decide que é melhor matá-la para que ela não sofra: não é uma solução amorosa? Se fosse para resumir o filme numa única frase, seria: "Ninguém sabe o que está se passando pela cabeça da pessoa que está dormindo ao nosso lado".

Será que nós sabemos, de verdade, o que acontece a nossa volta? Achamos que sabemos.
Achamos que sabemos quais são as ambições de nossos filhos, o que eles planejam para suas vidas, esquecendo que a complexidade humana também é atributo dos que nasceram do nosso ventre, e que por mais íntimos e abertos que eles sejam conosco, jamais teremos noção exata de seus desejos mais secretos.
Achamos que sabemos o que o amor da nossa vida sente por nós, baseados em suas declarações afetuosas, seus olhares temos, suas gentilezas intermináveis e sua permanência, isso diz tudo mesmo? Nem sempre temos conhecimento das carências mais profundas daquele que vive sob o nosso teto, e não porque ele esteja sonegando alguns de seus sentimentos, mas porque nem ele consegue explicar para si mesmo o que lhe dói e o que ainda lhe falta.

Achamos que sabemos quais são as melhores escolhas para nossa vida, e é verdade que alguma intuição temos mesmo, mas certeza, nenhuma. Achamos que sabemos como será envelhecer, como será ter consciência de que se está vivendo os últimos anos que nos restam, como será perder a rigidez e a saúde do corpo, achamos que sabemos como se deve enfrentar tudo isso, mas que susto levaremos quando chegar a hora.
Achamos que sabemos o que pensam as pessoas que nos fazem confidências. Aceitamos cada palavra dita e nos sentimos honrados pelas informações recebidas, sem levar em conta que muito do que está sendo dito pode ser da boca pra fora, uma encenação que pretende justamente mascarar a verdade, aquela verdade que só sobrevive no silêncio de cada um.

Achamos que sabemos decodificar sinais, perceber humores, adivinhar pensamentos, e às vezes acertamos, mas erramos tanto. Achamos que sabemos o que as pessoas pensam de nós. Achamos que sabemos amar, achamos que sabemos conviver e achamos que sabemos quem de fato somos, até que somos pegos de surpresa por nossas próprias reações.

Achar é o mais longe que podemos ir nesse universo repleto de segredos, sussurros, incompreensões, traumas sombras, urgências, saudades, desordens emocionais, sentimentos velados, todas essas abstrações que não podemos tocar, pegar nem compreender com exatidão. Mas nos conforta achar que sabemos.''


Lidar com o imprevisto é um grande desafio, e não paralisar e sofrer diante de uma incerteza é um enorme triunfo. Planejar é muito bom, mas melhor ainda é reconhecer que podemos e devemos, em alguns momentos, desistir, reformular o plano e até mesmo recomeçar do zero. No fim das contas, lidar com as incertezas pode ser divertido. À cada dia, uma nova surpresa...


                                                              Beijinhos,
                                        Manuela